FILOSOFIA HEIDEGGERIANA: UM
PENSAMENTO CRÍTICO AO PROBLEMA DO PENSAMENTO
Publicado
em 4 de novembro de 2012 por Mauricio Filho
O
presente trabalho visa tecer um breve comentário a respeito do modo pelo qual
Heidegger apresenta sua filosofia, a chamada filosofia
Heideggeriana. Busca-se investigar o papel do pensamento em sua
filosofia, bem como descobrir de que modo o pensamento cumpre esse papel. Para
isso, tomaremos como objeto de apreciação os textos O fim da filosofia e a
tarefa do pensamento [2], O
que quer dizer pensar e Ciência e pensamento do
sentido [4].
A
justificativa para o desenvolvimento deste artigo encontra-se no próprio
objetivo de se estudar Filosofia. Trata-se, portanto, do exercício do
pensamento nas questões filosóficas fundamentais. A metodologia aplicada é a
análise dos textos mencionados anteriormente, e o conteúdo é o próprio objeto
de estudo em análise.
Antes de
tudo, é necessário compreender os pressupostos da teoria Heideggeriana. Como
toda teoria parte de um fundamento, a filosofia de Heidegger fundamenta-se no
método fenomenológico e hermenêutico. Em outras palavras, Heidegger estuda o pensamento
enquanto fenômeno, mediante a investigação da própria consciência. E, por assim
dizer, debate com a própria compreensão e interpretação humana com relação ao
pensamento, uma vez que aplica tarefa hermenêutica ao tornar compreensível o
papel deste.
O
pensamento em Heidegger adquire o mesmo problema do sentido do ser, pois, para
ele, o ser encontra-se sob dois modos distintos: o ser enquanto é
(ESSE), ou o próprio ser, e o ser enquanto sendo (ENS), ou o ser
que se manifesta a nós enquanto ente. Heidegger evidencia que não devemos
nos prender ao domínio do ente, mas sim nos dedicarmos ao estudo adequado do
ser. Para o filósofo, por muito tempo o pensamento humano limitou-se ao estudo
do ser manifestado a nós, e sua proposta é estudar adequadamente “o ser do
ente”.
O
pensamento, assim, configura-se como uma entidade, de tal modo que precisa ser
compreendido e esclarecido para abordar com coerência seu estudo. Para
Heidegger, o ser possui modos distintos de ser, e o pensamento, enquanto ser,
também precisa de uma análise adequada.
A
filosofia existencial de Kierkegaard é o ponto de partida do pensamento
Heideggeriano, de tal maneira que Heidegger estrutura sua filosofia no conceito
de Dasein (o ser-no-mundo). Cada ente, segundo Heidegger, possui
seu ser único, e por essa razão o autor busca investigar o sentido,
os modos e a própria manifestação do ser. Propõe uma compreensão ontológica,
transcendente ou inteligível do ser, em contrapartida a uma compreensão ôntica,
sensível e imanente sob a qual a tradição havia se prendido.
Heidegger
procura abordar o papel do pensamento a partir de uma
investigação que se encontra no próprio modo de ser do pensamento.
Uma vez que o Dasein é o ente que inicia qualquer questionamento, o
pensamento só pode ser utilizado por um ser pensante. Assim, somos um ser e um
ente em grau distinto de privilégio, capaz de questionar o ente e o ser,
e possuir uma compreensão do próprio ser. Mas além disso, existimos para
investigar o ser, explorando as estruturas existenciais do pensamento.
Para
Heidegger, o ser e o pensar coexistem no universo, e o pensamento apropria o
ser como a si mesmo. O pensamento, sob o ponto de vista
heideggeriano, traz o objeto de estudo para si, de tal modo que tudo
o que se pensa é também “a-se-pensar”. Mais que um pensamento puramente
reflexivo da questão do pensamento, o pensamento em Heidegger é autônomo, e se
pauta no diálogo com o ser do pensamento. E procura pensar a verdade do ser,
prendendo-se a uma ética original de pensar reiteradamente tudo o que se apresenta
como insuficientemente pensado [5].
O
pensamento heideggeriano sugere um livramento de discursos que determinam e
aprisionam o ser, inclusive o próprio modo de ser do ser humano. Esse
pensamento, por outro lado, nos liberta e dá sentido à vida, uma filosofia do
sentido que nos direciona em busca do próprio sentido da nossa existência. A
nossa experiência adquire, com o exercício adequado do pensamento, um
sentido que é determinado pelo ser que pensa, e não por uma sociedade sem
sentido. Além disso, somos um ser que dá sentido e significado aos demais seres
e entes. Somos seres pensantes que investigam, inclusive, o próprio ser
humano.
Finalmente,
a tarefa do pensamento é restituir-se de afetividade e responsabilidade
mediante um pensar essencial que compreende e reconhece sua própria
impossibilidade de ser completo. O pensamento ético proposto por Heidegger
entrega-se a essa impossibilidade, permitindo que germine a possibilidade de
acompanhar a própria evolução do pensamento complexo. O problema do sentido do
pensamento é, portanto, a ação inacabada de restauração do pensamento
enquanto “ser-no-mundo”, pelo exercício crítico e uso consciente da razão.
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