segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Filosofia Contemporânea

 



Qual a relação da filosofia cartesiana com o conheçimento cientifico?



René Descartes especulou sobre o método de se obter conhecimento, em seu famoso livro "Discurso do Método" e também em "Meditações". Isso por que pouco tempo antes a Escolástica, que era a filosofia da Idade Média, caiu por terra, ou teve seus fundamentos postos em dúvida. A Escolástica foi a filosofia feita por Santo Tomás de Aquino, que adaptou a filosofia de Aristóteles à revelação cristã. E como pensava Aristóteles, a Escolástica supunha que a razão poderia explicar tudo, ou seja, que a realidade era perfeitamente racional.
Com o desenvolvimento das ciências naturais, que tinham como base a observação da natureza, percebeu-se que muita coisa que a Escolástica acreditava, e que deduziu com base na razão (que a terra era o centro do universo, por exemplo), se mostrou um equívoco. Então Descartes se pôs a meditar, querendo saber o que poderia garantir nossas certezas, a fim de evitar que se construa conhecimento equivocado.
Depois de muito meditar ele acabou dividindo o conhecimento em duas áreas. A primeira é a que se pode obter pela razão, tipo a matemática e as ciência naturais. A segunda a que temos de outro modo, tipo a metafísica e a religião. Tal maneira de organizar o conhecimento se denomina “duplicidade do real”, em contraposição com a “unicidade do real”, de Aristóteles e da Escolástica. E é uma volta a condição anterior de Aristóteles, em Platão, que preconizava dois mundos, o mundo dos fenômenos e o mundo das formas, ou ideias (eydos, em grego), que seria o verdadeiro mundo, sendo o mundo dos fenômenos apenas uma projeção apagada dele.
Então, respondendo à pergunta, a filosofia cartesiana foi o início filosófico da Era Moderna, uma era que se caracteriza por uma abordagem dupla do real. Ou seja, as ciências naturais somente conseguiram se firmar e se desenvolver quando o mundo e as coisas passaram a ser consideradas como algo meramente material, independentes de Deus ou de deuses. E aquilo que ultrapassa a razão, tal como o sobrenatural, foi afastado para outra esfera, o nosso conhecido “céu”, que tem uma abordagem diferente, pelas religiões modernas.
Mas esta maneira de encarar o problema não é uma novidade, pois já vimos que Platão já pensava assim. Mas não somente ele, pois Sto. Agostinho já disse quase a mesma coisa, muitos séculos antes. É que o pensamento tem esta característica muito interessante: Uma ideia às vezes aparece como um anúncio, depois desaparece por séculos, para reaparecer de novo, com outra roupagem, em outras circunstâncias.