sexta-feira, 7 de dezembro de 2012



FILOSOFIA HEIDEGGERIANA: UM PENSAMENTO CRÍTICO AO PROBLEMA DO PENSAMENTO
Publicado em 4 de novembro de 2012 por Mauricio Filho
O presente trabalho visa tecer um breve comentário a respeito do modo pelo qual Heidegger apresenta sua filosofia, a chamada filosofia Heideggeriana. Busca-se investigar o papel do pensamento em sua filosofia, bem como descobrir de que modo o pensamento cumpre esse papel. Para isso, tomaremos como objeto de apreciação os textos O fim da filosofia e a tarefa do pensamento [2], O que quer dizer pensar  e Ciência e pensamento do sentido [4].
A justificativa para o desenvolvimento deste artigo encontra-se no próprio objetivo de se estudar Filosofia. Trata-se, portanto, do exercício do pensamento nas questões filosóficas fundamentais. A metodologia aplicada é a análise dos textos mencionados anteriormente, e o conteúdo é o próprio objeto de estudo em análise.
Antes de tudo, é necessário compreender os pressupostos da teoria Heideggeriana. Como toda teoria parte de um fundamento, a filosofia de Heidegger fundamenta-se no método fenomenológico e hermenêutico. Em outras palavras, Heidegger estuda o pensamento enquanto fenômeno, mediante a investigação da própria consciência. E, por assim dizer, debate com a própria compreensão e interpretação humana com relação ao pensamento, uma vez que aplica tarefa hermenêutica ao tornar compreensível o papel deste.
O pensamento em Heidegger adquire o mesmo problema do sentido do ser, pois, para ele, o ser encontra-se sob dois modos distintos: o ser enquanto é (ESSE), ou o próprio ser, e o ser enquanto sendo (ENS), ou o ser que se manifesta a nós enquanto ente. Heidegger evidencia que não devemos nos prender ao domínio do ente, mas sim nos dedicarmos ao estudo adequado do ser. Para o filósofo, por muito tempo o pensamento humano limitou-se ao estudo do ser manifestado a nós, e sua proposta é estudar adequadamente “o ser do ente”.
O pensamento, assim, configura-se como uma entidade, de tal modo que precisa ser compreendido e esclarecido para abordar com coerência seu estudo. Para Heidegger, o ser possui modos distintos de ser, e o pensamento, enquanto ser, também precisa de uma análise adequada.
A filosofia existencial de Kierkegaard é o ponto de partida do pensamento Heideggeriano, de tal maneira que Heidegger estrutura sua filosofia no conceito de Dasein (o ser-no-mundo). Cada ente, segundo Heidegger, possui seu ser único, e por essa razão o autor busca investigar o sentido, os modos e a própria manifestação do ser. Propõe uma compreensão ontológica, transcendente ou inteligível do ser, em contrapartida a uma compreensão ôntica, sensível e imanente sob a qual a tradição havia se prendido.
Heidegger procura abordar o papel do pensamento a partir de uma investigação que se encontra no próprio modo de ser do pensamento. Uma vez que o Dasein é o ente que inicia qualquer questionamento, o pensamento só pode ser utilizado por um ser pensante. Assim, somos um ser e um ente em grau distinto de privilégio, capaz de questionar o ente e o ser, e possuir uma compreensão do próprio ser. Mas além disso, existimos para investigar o ser, explorando as estruturas existenciais do pensamento.
Para Heidegger, o ser e o pensar coexistem no universo, e o pensamento apropria o ser como a si mesmo. O pensamento, sob o ponto de vista heideggeriano, traz o objeto de estudo para si, de tal modo que tudo o que se pensa é também “a-se-pensar”. Mais que um pensamento puramente reflexivo da questão do pensamento, o pensamento em Heidegger é autônomo, e se pauta no diálogo com o ser do pensamento. E procura pensar a verdade do ser, prendendo-se a uma ética original de pensar reiteradamente tudo o que se apresenta como insuficientemente pensado [5].
O pensamento heideggeriano sugere um livramento de discursos que determinam e aprisionam o ser, inclusive o próprio modo de ser do ser humano. Esse pensamento, por outro lado, nos liberta e dá sentido à vida, uma filosofia do sentido que nos direciona em busca do próprio sentido da nossa existência. A nossa experiência adquire, com o exercício adequado do pensamento, um sentido que é determinado pelo ser que pensa, e não por uma sociedade sem sentido. Além disso, somos um ser que dá sentido e significado aos demais seres e entes. Somos seres pensantes que investigam, inclusive, o próprio ser humano.
Finalmente, a tarefa do pensamento é restituir-se de afetividade e responsabilidade mediante um pensar essencial que compreende e reconhece sua própria impossibilidade de ser completo. O pensamento ético proposto por Heidegger entrega-se a essa impossibilidade, permitindo que germine a possibilidade de acompanhar a própria evolução do pensamento complexo. O problema do sentido do pensamento é, portanto, a ação inacabada de restauração do pensamento enquanto “ser-no-mundo”, pelo exercício crítico e uso consciente da razão.