quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Mas para que serve mesmo a filosofia?



A palavra «filosofia» tem conotações infelizes: coisas abstractas, remotas, esquisitas. Tenho a impressão de que todos os filósofos e estudantes de filosofia passam por aquele momento de embaraço silencioso quando alguém nos pergunta inocentemente o que fazemos. Eu preferiria apresentar-me como engenheiro conceptual. Pois, tal como um engenheiro estuda a estrutura das coisas materiais, o filósofo estuda a estrutura do pensamento. Para compreender a estrutura é necessário ver como as partes funcionam e como se conectam entre si, o que significa saber o que aconteceria de melhor ou pior se fizéssemos algumas mudanças. É este o nosso objectivo quando investigamos a estrutura que dá forma à nossa visão do mundo. Os nossos conceitos e ideias constituem o lar mental em que vivemos. No fim, talvez tenhamos orgulho nas estruturas que construímos. Ou talvez pensemos que esses conceitos precisam de ser desmantelados e que temos de começar a partir do zero. Mas primeiro, temos de saber o que são estes conceitos.

Simon Blackburne, Pense, ma Introdução à Filosofia

O que é a filosofia? Por Maurício Filho



O que é a Filosofia? Esta é uma questão notoriamente difícil. Uma das formas mais fáceis de responder e dizer que a Filosofia é aquilo que os filósofos fazem, indicando de seguida os textos de Platão, Aristóteles, Descartes, Hume, Kant, Russell, Wittgenstein, Sartre e de outros filósofos famosos. Contudo, é improvável que esta resposta possa ser realmente útil se o leitor está a começar agora o seu estudo da Filosofia, uma vez que, nesse caso, não terá provavelmente lido nada desses autores. Mas, mesmo que já tenha lido alguma coisa, pode, ainda assim, ser difícil dizer o que tem em comum, se é que existe realmente uma característica relevante partilhada por todos. Outra forma de abordar a questão e indicar que a palavra filosofia deriva da palavra grega que significa amor da sabedoria.
Contudo, isto é muito vago e ainda nos ajuda menos do que dizer apenas que a Filosofia e aquilo que os filósofos fazem. Precisamos, por isso, de fazer alguns comentários gerais sobre o que é a Filosofia.
A Filosofia é uma actividade: e uma forma de pensar acerca de certas questões. A sua característica mais marcante é o uso de argumentos lógicos. A actividade dos filósofos e, tipicamente, argumentativa: ou inventam argumentos, ou criticam os argumentos de outras pessoas, ou fazem as duas coisas. Os filósofos também analisam e clarificam conceitos. A palavra filosofia e, muitas vezes, usada num sentido muito mais lato do que este, para referir uma perspectiva geral da vida.

Filosofia no Ensino Secundário

Como celebrar o Dia da Filosofia?




Uma boa sugestão poderá ser ler algum texto de introdução à disciplina. Que este dia sirva para debater ideias e para reafirmar o verdadeiro valor da filosofia.Sharing Services

A UNESCO indicou em 2002 a celebração internacional do Dia da Filosofia na terceira quinta-feira do mês de Novembro. Neste ano de 2011 será celebrado no próximo dia 17 de Novembro. Com este dia a UNESCO pretende promover a importância da reflexão filosófica e destacar o valor da filosofia para as nossas vidas quotidianas.

A filosofia é uma actividade crítica. Ao caracterizar-se a filosofia como crítica não se está a dizer que ela é uma actividade de “bota-abaixo”. Pelo contrário, significa que se procura em filosofia examinar se as ideias que os sujeitos cognitivos veiculam são plausíveis ou não. Com a crítica a filosofia destrói dogmas cristalizados, mostra ignorância onde se supunha um saber indisputável, nada aceita sem uma cuidadosa análise, e obriga constantemente a repensar ideias para as sustentarmos com melhores razões ou argumentos.

Esta actividade encetou-se fundamentalmente com Sócrates, na Grécia Antiga, ao estimular cada cidadão a examinar cuidadosamente as suas crenças em diálogo crítico com os outros, de modo a haver uma maior aproximação da verdade. É também isto que a filosofia nos convida a fazer hoje: a examinar e a discutir criticamente as nossas crenças.
A filosofia critica nomeadamente as crenças mais básicas que o ser humano possui e que dirigem a sua vida. Porém, pode-se levantar aqui uma objecção: a ciência também investiga criticamente crenças básicas, então qual é a relevância da filosofia? É preciso atender a uma diferença peculiar: a ciência trata daqueles problemas que podem ser analisados empiricamente, enquanto que a filosofia trata daqueles outros problemas que não podem ser analisados empiricamente e para os quais não existem métodos formais de prova.

Por exemplo, se nos limitarmos a usar metodologias empíricas nunca conseguiremos responder a problemas como os seguintes: Deve a eutanásia ser legalizada? A sociedade deve estar organizada segundo uma concepção libertarista (como pretende o nosso Governo) ou segundo outras concepções como o liberalismo-igualitário ou o comunitarismo? Será que Deus existe? Estas questões dizem respeito à filosofia, pois só se podem tentar resolver tais problemas recorrendo fundamentalmente ao pensamento, à argumentação cuidadosa e à discussão crítica.

Portanto, a filosofia é essencial pelo seu valor instrumental de facultar ao ser humano um pensamento crítico, mas também pelo seu valor cognitivo intrínseco de procurar encontrar boas respostas para problemas que são fundamentais para os seres humanos e que são insusceptíveis de resolução empírica e formal.

Nada melhor do que percepcionar a filosofia em acção para se compreender melhor a natureza e a relevância desta área do conhecimento humano. Por isso, uma boa sugestão para celebrar o dia internacional da filosofia poderá ser ler algum texto de introdução à filosofia. Que este dia seja, como a UNESCO recomenda, um dia para debater ideias e para reafirmar o verdadeiro valor da filosofia. No entanto, espera-se que a filosofia não fique circunscrita apenas a um dia, mas que seja uma presença constante na vida humana.

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